Volume III (Templo Soul)

Final da década de 90. Música nova na rádio. O grupo é evangélico, mas a letra ... “Se você precisa de um bagulho pra ficar doidão...”. O nome da música então...Caixa d’água.

Finalmente o CD é lançado e começa a ser vendido. O Brasil conhece o Templo Soul. O CD é muito bem recebido e vira notícia até nos fanzines seculares de black music. Ponto pra musicalidade da música gospel brasileira. Os músicos do grupo são membros da Igreja Bíblica da Paz em São Paulo, que foi uma das responsáveis pela Kenolyzação do louvor na década de 80, com traduções para sucessos do Hosana Music, tipo, Exaltai, Cantai, Vejo o Senhor, entre outras. O primeiro CD contava com 14 faixas e tinha de tudo um pouco. Soul, rap, r&b, hip-hop, e ainda teve espaço para uma música romântica (para casamentos) e um musica de adoração no formato mais tradicional.

Veio então o segundo CD – Não desista – que contou também com a participação de Dj Alpiste e Pregador Luo, entre outros. Os grooves estavam lá, melhores do que no anterior, e as letras iam além do lugar comum das gírias de crentes e dos chavões evangélicos.

No final do ano passado com muita expectativa foi lançado o terceiro álbum da banda – Volume III – e não decepcionou. Trabalho de qualidade para quebrar o paradigma de que no meio evangélico apesar de terem surgido bons músicos, a qualidade das gravações ainda deixava a desejar.

Apesar de algumas mudanças a banda continua com 11 músicos. Três vocalistas, a cozinha completa com reforço da percussão e o naipe de metais. Todos liderados por Rogério Serralheiro, principal autor das músicas desde o primeiro trabalho. A capa e contracapa do CD fazem alusão aos anos 70, e mostra os músicos numa espécie de charge caracterizados no melhor estilo black power. O álbum possui 13 faixas e simula um disco de vinil. Muito bem bolado.

O CD começa com a corda toda. Diferente dos anteriores, o naipe de metais ganha o destaque característico das bandas de soul e seus arranjos são um caso a parte. As quatro primeiras faixas são literalmente pra dançar. “Não pare” já mostra a força do soul na introdução. Se não dá pra ficar parado com o swing do teclado, quando entra o sopro a casa cai. A letra nos chama para não pararmos de adorar a Deus, para tomarmos posse da liberdade que temos para adorar a Deus, dançando se necessário.

“Não esquente a cabeça com as finanças e o leite das crianças, buscai primeiro o reino de Deus e Ele cuidará de tudo que é seu”. “Como Deus é bom” não deixa a peteca cair, tem toda atmosfera da faixa anterior e ainda conta com um rap com o timbre inconfundível de Luo.

“Então diga chega e manda embora tudo que te afasta da presença de Deus”, essa é a mensagem da terceira faixa “Chega”. Groove, muito groove.

Como nas faixas anteriores, Melhor lugar, começa com o naipe de metais detonando tudo. Tudo mesmo. No final ainda tem uma brincadeira com aqueles pitchs de rotação que existiam nos toca discos antigos.

“Fala” é primeira faixa lenta deste trabalho, mas sem perder a batida funkeada. É uma oração. “Fala, estamos prontos para Te ouvir. Fala, Tua presença podemos sentir. Derrama seu Espírito sobre nós, queremos ouvir somente a Tua voz”.

O r&b volta falando sobre a vitória do nosso senhor e salvador Jesus Cristo através de sua obra redentora na cruz e sobre sua volta para reinar sobre toda terra. “Vai voltar” ainda conta com um bonito solo de trompete com surdina.

“Alforria” é um curto interlúdio instrumental. Tem menos de 2 minutos. Mas é puro jazz.

Os embalos voltam em “Se segura”. Volta também os arranjos dos metais, o swing do teclado e o perfeito groove baixo e batera. “Parei de reclamar, de esquentar a cabeça, eu sei que com ajuda de Deus logo eu viro a mesa”. No meio e no final da música a banda dá uma meia virada para um quase samba que ficou muito interessante. Se segura aí!

Se fosse falar algo sobre “Deslize”, teria de repetir o que foi dito sobre a faixa anterior ou sobre as 4 primeiras faixas. Mas não posso deixar de destacar os detalhes nos espaços preenchidos pelo órgão. Nota 10.

A faixa 10 conta com a participação de um grupo de crianças. Elas não cantam, mas interagem com o vocalista. “Qual é o seu nome” é outra faixa sobre Jesus, e Seu nome que é sobre todo nome. Ah! Se antes tivemos um quase samba, agora a banda dá uma virada para um quase pagode. Galera, ficou muito legal. Muito bom mesmo.

“Quando você está aqui” traz a participação do produtor, cantor e compositor Isabêh.

Um excelente dueto entro Rogerinho e Kelly Lopes (Graça Music) marca “O que há de melhor em mim”. É a única faixa em que Rogério divide a produção. O arranjo é de Marcio “Wood” de Carvalho (que já arranjou para Renascer Praise, Comunhão e adoração e Maurílio Santos, entre outros). Ainda conta com a participação do Coral Degraus Music. O louvor tem o estilo muito usado por dirigentes como “Kirk Franklin”, estilo que ainda não tinha sido usado pelo grupo nos CDs anteriores.

Terminando com chave de ouro, que tal uma batida de hip hop, com muito rap e vibração? “Estenda sua mão” simula um debate, onde a banda levanta questões que são respondidas por nomes do rap gospel nacional. Com participação de Zap, Aphro Lica, Marcio Ataque Verso, Gabriel Mano de fé, K-Paz e Francisco J.C. (que lançou recentemente um CD pela graça music com a participação de Rogerinho na produção e nos vocais de uma faixa), a música é uma reflexão sobre realidades de nossa vida cotidiana. O pré-refrão e o refrão são uma exortação ao compromisso e prática do cristianismo em nossa vida diária. Se não estaremos enganando a nós mesmos e com certeza colheremos os frutos de nossa hipocrisia e acomodação.

Volume III é tudo isso e muito mais. Por melhor que sejam minhas intenções nesta análise, não tenho como transferir para o papel toda adoração e musicalidade que este álbum transmite. Se você curte black music com qualidade não pode se dar ao luxo de não ter esse trabalho em sua coleção. Aguardo com expectativa a confirmação de um papo que rola na rede, de que já está em fase de produção, para este ano ainda, um CD do Templo Soul com o Pregador Luo. Com expectativa, mas sem ansiedade.

Texto revisado por Leone Lacerda.

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