Análises
Ouvimos o mais recente álbum de Amanda Ferrari - Bastidores. Confira nossa crítica

Com todas as letras possíveis, Amanda Ferrari afirmou que Bastidores é um álbum que trata sobre "um tempo de virada". Ocorre que, na história recente do nicho musical pentecostal brasileiro, versar sobre dificuldades e recomeço se tornou algo bastante diferente de reconhecer a soberania divina neste processo transitório.
Em 2008, Damares tornou-se notória nacionalmente com Apocalipse, especialmente pelo hit "Sabor de Mel" que, para o bem e para o mal, projetou-a em todo o país. Enquanto a cantora, até os dias de hoje, paga o preço por ter sido reconhecida com uma música de teor triunfalista, outras intérpretes, como Amanda Ferrari, apostam em projetos pasteurizados sem a menor preocupação com as verdades bíblicas em pleno 2016.
A produção musical de Tiago Oliveira sustenta a participação de Quiel Nascimento. Ele, conhecido por ter trabalhado com Trazendo a Arca, Damares, Shirley Carvalhaes, Lauriete, Cristina Mel e outros artistas e bandas, assina os arranjos de cordas juntamente com Oliveira. A essência pop da obra, com todos os clichês possíveis, veste as interpretações ásperas e pouco originais de Amanda.
Algumas das composições são assinadas pela cantora em parceria com seu marido, Gunar Ferrari. Mas, em grande parte, o repertório é assinado por letristas como Tângela Vieira, Anderson Freire, Moisés Cleyton e a dupla Os Nazireus. Apesar das várias contribuições, dentro das quinze faixas, a essência do discurso é motivacional. Vem pro Meio, Nenhum Peixinho, Vem me Encontrar e Pisa pintam histórias dramáticas envolvendo a figura de Cristo: A multiplicação de pães, a tribulação em alto mar e as curas divinas. Mas não se engane pensando que Ele é o ponto mais importante das canções. Na verdade, o que Amanda enfatiza é a postura humana nada madura de simplesmente receber curas, milagres, sinais e toda sorte de benefícios.
A única justificativa dada pela intérprete nas músicas é o sofrimento e angústia humana. Livre Acesso, antes de tudo, diz das "feridas de um amor que não cicatrizou". Já Virou recorre a história de Ana para afirmar que "no deserto da dor eu passei". E como não poderia deixar de ser, Uma Hora Dessa remete Bartimeu para dizer que "se a porta está fechada eu vou bater até ela se abrir". Outro caráter é visto com Na Presença de Anjos, um dos poucos momentos onde o discurso humano sofre retrações. Pouco versátil e interessante, o conjunto de faixas é facilmente esquecível.
A crise de autenticidade invade também a sonoridade. É assustador como A Muralha é semelhante a "Guerreiros", do também recente álbum de Elaine de Jesus, Somos a Igreja. No entanto, o efeito aqui é menos encorpado e original. A correspondência entre as introduções de Yaveh e "Sinônimos", da dupla Chitãozinho & Xororó, é gritante. A tentativa de executar música caipira e transitar para um pop de vocais melódicos em Casinha do Sertão é de resultado extremamente desengonçado.
Com um vocal forçado e impostação de qualidade duvidosa, a cantora, em algum nível, quer mostrar verdade. Mas, no mínimo, resulta numa personalidade embaraçosa e desconfortável de ouvir, a beirar quase no grito. Existe uma distância gigantesca entre uma voz com excessos e uma voz caracterizada pelo excesso. E neste quesito, Amanda Ferrari está no segundo grupo.
Ferrari não é Damares. A paranaense se tornou conhecida através de uma música antropocêntrica. No entanto, num processo de maturação, encontrou novas abordagens que favoreceram sua arte. Amanda seguiu exatamente o caminho oposto. Sua música está cada vez mais irrelevante e muito longe de ser convincente. A menos que haja novas direções, continuará sendo uma encarnação ultrapassada do pentecostal de autoajuda.
Nota: ★★☆☆☆
Em 2008, Damares tornou-se notória nacionalmente com Apocalipse, especialmente pelo hit "Sabor de Mel" que, para o bem e para o mal, projetou-a em todo o país. Enquanto a cantora, até os dias de hoje, paga o preço por ter sido reconhecida com uma música de teor triunfalista, outras intérpretes, como Amanda Ferrari, apostam em projetos pasteurizados sem a menor preocupação com as verdades bíblicas em pleno 2016.
A produção musical de Tiago Oliveira sustenta a participação de Quiel Nascimento. Ele, conhecido por ter trabalhado com Trazendo a Arca, Damares, Shirley Carvalhaes, Lauriete, Cristina Mel e outros artistas e bandas, assina os arranjos de cordas juntamente com Oliveira. A essência pop da obra, com todos os clichês possíveis, veste as interpretações ásperas e pouco originais de Amanda.
Algumas das composições são assinadas pela cantora em parceria com seu marido, Gunar Ferrari. Mas, em grande parte, o repertório é assinado por letristas como Tângela Vieira, Anderson Freire, Moisés Cleyton e a dupla Os Nazireus. Apesar das várias contribuições, dentro das quinze faixas, a essência do discurso é motivacional. Vem pro Meio, Nenhum Peixinho, Vem me Encontrar e Pisa pintam histórias dramáticas envolvendo a figura de Cristo: A multiplicação de pães, a tribulação em alto mar e as curas divinas. Mas não se engane pensando que Ele é o ponto mais importante das canções. Na verdade, o que Amanda enfatiza é a postura humana nada madura de simplesmente receber curas, milagres, sinais e toda sorte de benefícios.
A única justificativa dada pela intérprete nas músicas é o sofrimento e angústia humana. Livre Acesso, antes de tudo, diz das "feridas de um amor que não cicatrizou". Já Virou recorre a história de Ana para afirmar que "no deserto da dor eu passei". E como não poderia deixar de ser, Uma Hora Dessa remete Bartimeu para dizer que "se a porta está fechada eu vou bater até ela se abrir". Outro caráter é visto com Na Presença de Anjos, um dos poucos momentos onde o discurso humano sofre retrações. Pouco versátil e interessante, o conjunto de faixas é facilmente esquecível.
A crise de autenticidade invade também a sonoridade. É assustador como A Muralha é semelhante a "Guerreiros", do também recente álbum de Elaine de Jesus, Somos a Igreja. No entanto, o efeito aqui é menos encorpado e original. A correspondência entre as introduções de Yaveh e "Sinônimos", da dupla Chitãozinho & Xororó, é gritante. A tentativa de executar música caipira e transitar para um pop de vocais melódicos em Casinha do Sertão é de resultado extremamente desengonçado.
Com um vocal forçado e impostação de qualidade duvidosa, a cantora, em algum nível, quer mostrar verdade. Mas, no mínimo, resulta numa personalidade embaraçosa e desconfortável de ouvir, a beirar quase no grito. Existe uma distância gigantesca entre uma voz com excessos e uma voz caracterizada pelo excesso. E neste quesito, Amanda Ferrari está no segundo grupo.
Ferrari não é Damares. A paranaense se tornou conhecida através de uma música antropocêntrica. No entanto, num processo de maturação, encontrou novas abordagens que favoreceram sua arte. Amanda seguiu exatamente o caminho oposto. Sua música está cada vez mais irrelevante e muito longe de ser convincente. A menos que haja novas direções, continuará sendo uma encarnação ultrapassada do pentecostal de autoajuda.
Nota: ★★☆☆☆
Ouças as músicas e saiba mais sobre: Amanda Ferrari
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Tiago Abreu
Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.
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